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Depois de ter estudado com Charcot, que recorria à hipnose no tratamento das perturbações nervosas, e com Breuer, com quem aprofundou os seus cohecimentos, Freud abandona o trabalho em equipa e desenvolve a sua própria teoria sobre o funcionamento psíquico. Para o cientista austríaco era evidente que as causas da histeria, com sintomas físicos, só podiam ser de ordem psíquica, uma vez que os doentes não apresentavam nenhum problema a nível orgânico. Ora, se a origem desses problemas era psíquica e não havia consciência disso, para lá de psíquicas, as causas só podiam ser não conscientes. O mesmo é dizer, a causa da histeria estava no inconsciente.
E que é o inconsciente? O inconsciente, à semelhança do que se passa em nossas casas, seria uma espécie de cave onde vamos acumulando aquilo que já não serve ou que não é útil de momento. Neste caso estaríamos a falar de tudo quanto nos impede de estarmos bem connosco próprios e de acordo com o socialmente aceite: desejos sexuais considerados inaceitáveis, medos irracionais, fantasias, recordações que causam dor e impulsos violentos. Ou seja, para lá daquilo que controlamos - as percepções, os pensamentos, os conhecimentos -, e de que temos consciência, estaria uma série de energia acumulada, inconsciente, pronta a sair da cave e a surpreender-nos quando menos esperamos em forma de lapso - quando trocamos os nomes às pessoas, por exemplo - e de perturbação nervosa - a histeria e tantas outras -. Perceber como é que isso acontece é o que faremos de seguida.
Quando somos confrontados com impulsos e desejos que colocariam o equilíbrio indivíduo-sociedade em perigo, isto é, quando tendemos a manifestar pulsões e tendências perigosas e consideradas incorretas, há uma espécie de censor que nos diz isso mesmo: atenção! O que aí vem pode ser desastroso. Como numa discoteca, o porteiro decide quem está bem vestido e pode entrar e quem não corresponde ao perfil desejável. Nesse momento, uma vez mais como na discoteca, esses impulsos ficam à porta e acabam por se retirar, neste caso permanecer no inconsciente. A este processo que consiste em mandar para trás os impulsos reprováveis Freud chamou recalcamento, um processo normal de sobrevivência individual e social. Um processo que pode transformar-se num verdadeiro problema, no entanto, quando se dá demasiadas e repetidas vezes, sem que cheguemos a libertar a energia acumulada e que acaba por se manifestar contra a nossa vontade em forma de sonho - já pensaste de onde vêm as imagens bizarras dos teus sonhos? - ou de doença quando a repressão e a carga acumulada são excessivas.
Não é por acaso que o método inventado por Freud, de que falaremos nas próximas aulas, dá particular atenção à análise à linguagem dos sonhos. Precisamente por ser um momento da nossa vida psíquica em que o porteiro, isto é, a consciência que nos lembra o que podemos e não podemos fazer, está adormecido. O mesmo é dizer, por ser um momento em que realizamos todos os nossos desejos de forma livre, ainda que de forma simbólica, e que de outra forma poderiam estar na base de doença mental.
À zona onde toda essa energia se encontra acumulada Freud chamou ID, uma zona inconsciente que tende para a satisfação imediata dos desejos e pulsões. Uma zona, portanto, sem regras, sejam de lógica, que nos obrigam a fazer sentido, sejam morais ou sociais, que nos recordam o que deve ou não ser feito. O EGO é precisamente o contrário, é a zona consciente - segundo Freud substancialmente mais pequena - que se rege pelo princípio da realidade, em oposição ao princípio do prazer que rege o ID, e que se orienta por princípios lógicos e sociais. Numa palavra, decide quais os impulsos provenientes do ID podem ou não ser ealizados. Algures entre ambos, Entre ID e EGO, está o SUPEREGO, a zona psíquica que corresponde à interiorização das normas, dos valores sociais e morais, adquiridas ao longo do processo de socialização e que pressiona o EGO para controlar o ID. Uma zona, segundo Freud, que começa a manifestar-se entre o 3 e os 5 anos.
Quando o equilíbrio entre estas três zonas psíquicas (não se trata de localizações físicas, mente não é cérebro) é posto em causa, seja porque as situações recalcadas são demasiadamente traumáticas, seja porque o SUPEREGO não se manifesta, ou então se manifesta de forma excessivamente rigorosa, corremos o risco de desenvolver uma doença mental e/ou comportamentos considerados desviantes. Para lidar com esses casos, Freud inventou um método, a Psicanálise, que merecerá a nossa atenção nas próximas aulas.