domingo, 20 de novembro de 2011

. O Inconsciente e o funcionamento psíquico segundo Freud



Depois de ter estudado com Charcot, que recorria à hipnose no tratamento das perturbações nervosas, e com Breuer, com quem aprofundou os seus cohecimentos, Freud abandona o trabalho em equipa e desenvolve a sua própria teoria sobre o funcionamento psíquico. Para o cientista austríaco era evidente que as causas da histeria, com sintomas físicos, só podiam ser de ordem psíquica, uma vez que os doentes não apresentavam nenhum problema a nível orgânico. Ora, se a origem desses problemas era psíquica e não havia consciência disso, para lá de psíquicas, as causas só podiam ser não conscientes. O mesmo é dizer, a causa da histeria estava no inconsciente.

E que é o inconsciente? O inconsciente, à semelhança do que se passa em nossas casas, seria uma espécie de cave onde vamos acumulando aquilo que já não serve ou que não é útil de momento. Neste caso estaríamos a falar de tudo quanto nos impede de estarmos bem connosco próprios e de acordo com o socialmente aceite: desejos sexuais considerados inaceitáveis, medos irracionais, fantasias, recordações que causam dor e impulsos violentos. Ou seja, para lá daquilo que controlamos - as percepções, os pensamentos, os conhecimentos -, e de que temos consciência, estaria uma série de energia acumulada, inconsciente, pronta a sair da cave e a surpreender-nos quando menos esperamos em forma de lapso - quando trocamos os nomes às pessoas, por exemplo - e de perturbação nervosa - a histeria e tantas outras -. Perceber como é que isso acontece é o que faremos de seguida.

Quando somos confrontados com impulsos e desejos que colocariam o equilíbrio indivíduo-sociedade em perigo, isto é, quando tendemos a manifestar pulsões e tendências perigosas e consideradas incorretas, há uma espécie de censor que nos diz isso mesmo: atenção! O que aí vem pode ser desastroso. Como numa discoteca, o porteiro decide quem está bem vestido e pode entrar e quem não corresponde ao perfil desejável. Nesse momento, uma vez mais como na discoteca, esses impulsos ficam à porta e acabam por se retirar, neste caso permanecer no inconsciente. A este processo que consiste em mandar para trás os impulsos reprováveis Freud chamou recalcamento, um processo normal de sobrevivência individual e social. Um processo que pode transformar-se num verdadeiro problema, no entanto, quando se dá demasiadas e repetidas vezes, sem que cheguemos a libertar a energia acumulada e que acaba por se manifestar contra a nossa vontade em forma de sonho - já pensaste de onde vêm as imagens bizarras dos teus sonhos? - ou de doença quando a repressão e a carga acumulada são excessivas.

Não é por acaso que o método inventado por Freud, de que falaremos nas próximas aulas, dá particular atenção à análise à linguagem dos sonhos. Precisamente por ser um momento da nossa vida psíquica em que o porteiro, isto é, a consciência que nos lembra o que podemos e não podemos fazer, está adormecido. O mesmo é dizer, por ser um momento em que realizamos todos os nossos desejos de forma livre, ainda que de forma simbólica, e que de outra forma poderiam estar na base de doença mental.

À zona onde toda essa energia se encontra acumulada Freud chamou ID, uma zona inconsciente que tende para a satisfação imediata dos desejos e pulsões. Uma zona, portanto, sem regras, sejam de lógica, que nos obrigam a fazer sentido, sejam morais ou sociais, que nos recordam o que deve ou não ser feito. O EGO é precisamente o contrário, é a zona consciente - segundo Freud substancialmente mais pequena - que se rege pelo princípio da realidade, em oposição ao princípio do prazer que rege o ID, e que se orienta por princípios lógicos e sociais. Numa palavra, decide quais os impulsos provenientes do ID podem ou não ser ealizados. Algures entre ambos, Entre ID e EGO, está o SUPEREGO, a zona psíquica que corresponde à interiorização das normas, dos valores sociais e morais, adquiridas ao longo do processo de socialização e que pressiona o EGO para controlar o ID. Uma zona, segundo Freud, que começa a manifestar-se entre o 3 e os 5 anos.

Quando o equilíbrio entre estas três zonas psíquicas (não se trata de localizações físicas, mente não é cérebro) é posto em causa, seja porque as situações recalcadas são demasiadamente traumáticas, seja porque o SUPEREGO não se manifesta, ou então se manifesta de forma excessivamente rigorosa, corremos o risco de desenvolver uma doença mental e/ou comportamentos considerados desviantes. Para lidar com esses casos, Freud inventou um método, a Psicanálise, que merecerá a nossa atenção nas próximas aulas.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

. Freud e a terceira ferida narcísica da humanidade: o inconsciente.



Depois de Copérnico, no século XVI, que invalida a hipótese geocêntrica e retira o Homem do centro do Universo, e das revelações de Charles Darwin, no século XIX, filiando a espécie humana numa raíz comum a outras espécies, Freud é conhecido por ter dado a machada final, já no século XX, na ideia que a Humanidade fazia de si mesmo: um ser criado por Deus, com estatuto especial entre os outros seres, e em pleno uso da sua vontade. E isto por uma razão muito simples: além da sua vontade, o Homem é movido por razões de que não tem consciência nem controla. Quer isto dizer que por detrás da consciência - as percepções, pensamentos e conhecimentos - existe uma dimensão mais profunda de que não temos consciência - o inconsciente - que interfere silenciosamente na vida de cada um de nós. Como é que Freud chegou a semelhante conclusão e como é que o inconsciente funciona, é o que veremos de seguida.

domingo, 6 de novembro de 2011

. Behaviorismo: a bela e o senão



Não há dúvidas que Watson deu um grande contributo para a definição do objeto de estudo da Psicologia e para o estudo do comportamento. Ainda assim, não está livre de críticas:

.trata-se de uma visão muito simplista de comportamento (estímulo-resposta), ignorando que os processos mentais dos seres humanos são muito mais complexos do que os dos animais

.substima os factores hereditários e o seu papel no desenvolvimento das respostas

.ignora que pessoas diferentes podem reagir de maneira diferente à mesma situação

.ignora que pessoas diferentes podem reagir de forma idêntica perante situações semelhantes


Para não falar do perigo que representa pensar que o comportamento humano é facilmente moldável, manipulável e controlável. Uma questão para discutirmos na aula...

. Pavlov, Thorndike e a sua importância para o behaviorismo

Como vimos, o estudo do comportamento animal foi determinante nas propostas de Watson. Além das que ele mesmo realizou com ratos e macacos, há outras experiências desenvolvidas por contemporâneos seus que estão na base das suas descobertas: as de Pavlov, um investigador russo que trabalhou no domínio da reflexologia, e as de Thorndike, que enunciou a lei do efeito.



Pavlov e a reflexologia

Pavlov desenvolveu experiências com cães sobre o funcionamento das secreções gástricas, o que lhe valeu o prémio Nobel, e distinguiu dois tipos de reflexos (respostas/reações): os reflexos inatos e os reflexos aprendidos ou condicionados. Os primeiros são comuns aos homens e animais, são imediatos e involuntários, como é o caso da salivação perante o alimento ou a reação à luz e ao som que nos surpreendem. Os segundos são aprendidos, ou seja, são respostas que desenvolvemos depois de associarmos diferentes estímulos, como acontece, por exemplo, quando vamos ver quem é quando ouvimos bater à porta. Para compreender a distinção entre uns e outros, o melhor é mesmo descrevermos a experiência que o celebrizou:

1. Pavlov mostra um pedaço de carne (E1) a um cão e este saliva (R1)

2. Pavlov associa à carne uma campainha (E1+E2) e o cão continua a salivar (R1)

3. Pavlov faz soar a campainha (E2) e o cão continua a salivar (R1)




O que aconteceu nesta experiência: depois de o estímulo não condicionado (a carne) ser repetidas vezes associado ao estímulo condicionado (a campainha), o cão aprendeu a reagir ao estímulo condicionado como reagiria naturalmente ao não condicionado.






Thorndike e a lei do efeito

Thorndike (1874-1949), norte americano, mostrou que há uma relação entre o estímulo e a resposta quando esta é acompanhada de recompensa. Inversamente também: se a resposta não é acompanhada de recompensa, ou até é acompanhada de punição, aquela relação enfraquece. Por exemplo: se colocarmos um gato dentro de uma gaiola que só abre depois de acionar um cordel, ao mesmo tempo que colocamos cá fora um prato de comida só acessível se a gaiola estiver aberta, depois de muitas tentativas e erros, o gato vai aprender a abrir a porta e a comer quando desejar. O processo é relativamente simples: depois de muitas tentativas frustradas e de se atirar às grades, por acaso, o gato aciona o cordel e tem acesso à comida, o que se repete por várias vezes até que o gato passa a associar o acionamento do cordel à abertura da porta. O que no princípio foi um acaso, e demorava imenso tempo a conseguir, tornou-se uma resposta aprendida, uma vez que o gato passou a demorar cada vez menos tempo para conseguir o pretendido. Ou seja, quando aprendemos a associar um comportamento (acionar o cordel) a uma recompensa (comida), o comportamento consolida-se tende a repetir-se (o gato aciona o cordel sem grandes hesitações). Quando, pelo contrário, um comportamento não é seguido de recompensa (o gato atira-se contra as grades e não consegue comida), ou é punido (o gato atira-se contra as grades e acaba por se magoar), o comportamento tende a desaparecer (o gato deixa de se atirar contra as grades). E não é assim com os humanos? Thorndike estava convencido que sim.



. Watson: a noção de comportamento e o papel do meio





Segundo Watson, o comportamento é o conjunto de respostas objetivamente observáveis aos estímulos provenientes do meio físico ou social. Um estímulo é qualquer coisa, ou situação, que provoca uma reação em nós, a resposta ao estímulo. Por exemplo, quando fecho os olhos porque alguém aponta uma luz na minha direção, a luz é o estímulo e o pestanejar a resposta. Watson estava convencido que se conhecermos o estímulo podemos prever a resposta, estabelecendo uma lei, à semelhança dos fenómenos naturais, que se repetem em circunstâncias semelhantes. Daí que também estivesse convencido de que se eu sujeitar um indivíduo a um determinado estímulo, ou conjunto de estímulos, posso produzir nele a resposta que eu desejar. Dito de outro modo: Watson estava convencido que é possível condicionar/treinar/ensinar comportamentos, ao ponto de ter afirmado que conseguiria transformar um grupo de crianças naquilo que ele mais desejasse: um ladrão, um juíz, um médico.... Realçando desta maneira o papel do meio na produção de comportamentos, na medida em que pessoas provenientes de meios diferentes, perante a mesma situação, reagiriam de maneira diferente também. Watson sabia que entre o estímulo e a resposta há uma séria de processos mentais, além dos aspetos hereditários que também interferem na construção da personalidade, mas considerava-os pouco importantes.


A ideia era estabelecer leis e fazer previsões, de modo a podermos moldar alguns comportamentos e a evitar a ocorrência de outros. Trata-se de uma ideia acertada no que diz respeito ao comportamento animal, mas perigosa, como veremos, no que diz respeito ao comportamento humano. Ainda assim, trata-se de uma ideia com muitos seguidores e que esteve na base de muitos projetos, da política ao cinema. Laranja Mecânica, por exemplo, um filme tão brilhante quão violento de Stanley Kubrick, é exemplo disso mesmo.

. Watson e o behaviorismo



Como vimos, a proposta de Wundt não está livre de críticas. É verdade que introduziu o método experimental na Psicologia, mas isso não foi suficiente para que alcançasse objetividade das outras ciências. Watson (1878-1958) foi o primeiro a reconhecer essa limitação e a tentar solucionar o problema. Inspirado pelos estudos no domínio da neurologia, que recorria a experiências com animais, e depois de se doutorar em neuropsicologia, deu aulas de psicologia animal. Defendeu que não há diferença entre esta última e a psicologia humana, pelo que o método a seguir deveria ser o mesmo: estudar o comportamento objetivamente observável, a única coisa que podemos observar diretamente, e não a consciência, apenas acessível pela introspeção. A esta ideia dá-se o nome de behaviorismo (como sabes, behavior significa comportamento em inglês), ou comportamentalismo: o objeto de estudo da Psicologia é o comportamento humano observável recorrendo ao método experimental.